O que se segue é uma proposta de alfabeto ogâmico com árvores nativas do Brasil. Percorri nas últimas semanas (Nota: este texto é de 2005.) vários tratados de botânica, analisando a flora arbórea brasileira e escolhendo, de acordo com sua importância em cada região e qualidades paisagísticas, espécimes que formariam as famílias do Ogham brasileiro.
Tive, é claro, de fazer algumas alterações relativamente ao Ogham irlandês, as quais ora submeto à apreciação de todos.
Na terceira família de consoantes, a Raça do Mate (que no Ogham irlandês corresponderia a Aicme Muine, Raça da Vinha), substituí a consoante NG (ngéadal, o junco), pelo NH português, uma vez que o NG não teria utilidade em nosso idioma. Pelo mesmo motivo, substituí o ST (straif, o espinheiro-negro), pelo Z, o que não deve causar espécie, uma vez que o Z é uma das transliterações atribuídas a esse caractere.
Em relação à letra Z, tive de representá-la pelo zimbro (junípero) que, embora não pertença à flora nativa, está bem aclimatado no Brasil e é utilizado na medicina popular. A madeira e as bagas do zimbro em infusão, decocção ou óleo aplicam-se contra asma, bronquite, acidez, má digestão e hidropsia, tendo também valor diurético. Os antigos tratados de magia (como o Magus, de Francis Barrett), mencionam que as bagas do zimbro, misturadas ao tomilho, compõem um incenso que provoca visões. Nas terras célticas, era plantado junto às portas para desencorajar os ladrões e acreditava-se que suas bagas secas, enfiadas num cordel, tinham a capacidade de atrair o amor.
Considerando todas essas propriedades, penso que o zimbro possa ser bem recebido neste Ogham. E foi também esse o critério que me guiou ao eleger a romã (quantas vezes já a usei para aliviar uma inflamação da garganta?) para representar a letra R.
Mantive a letra H, ainda que seja muda em português, unicamente porque é necessária para compor o grupo LH. Isso unicamente porque não há, até onde sei, uma só árvore ou erva cujo nome em português comece com o som representado pelo LH. Escolhi a hortelã (menta), que também não é nativa do Brasil, para representar o H, por causa de sua difusão e amplo uso medicinal e culinário em todo o território nacional.
O Q é a quaresmeira. Deve ser utilizado para registrar apenas o som que se ouve em QUA-resmeira, fre-QUEN-te e e-QUI-no, ou seja, /KW/. Para o som que se ouve em QUE ou QUÍ-mica, usa-se o C, castanheira, que soa sempre como /K/, nunca como /S/.
No ogham irlandês, as Forfeda (Letras Adicionais) representam ditongos e sons consonantais. Usei esse grupo para representar sons consonantais que são importantes em português e que não são contemplados no Beth-Luis-Nion.
Raça do Bacuri,
B - bacuri
L – licuri
F – figueira-branca
S – sapucaia
N – naiá
Raça da Hortelã
H – hortelã
D – dima
T – tucumã
C – castanheira
Q – quaresmeira
Raça do Mate
M – mate
G – goiaba
Nh - nhacatirão
Z – zimbro
R – romã
Raça da Araucária
A – araucária
O – orabutã
U – urucum
E – embaúba
I – ipê-amarelo
Letras Adicionais
Ch – chal-chal
Gü – nguaxupita
J – jacarandá
P – pitanga
V – varova
1. Raça do Bacuri
B - BACURI
Nome científico: Platonia insignis
Onde é encontrada: Região Amazônica e Nordeste do país, na floresta pluvial. Frequente no baixo Amazonas e Ilha do Marajó. Outros nomes: bakuri, bacuri-açu, bacurizeiro, bacuri-grande, landirana (BA).
L - LICURI
Nome científico: Syagrus coronata
Onde é encontrada: Pernambuco até o sul da Bahia, na mata pluvial atlântica. Outros nomes: aricuri, uricuri, nicuri, alicuri.
F - FIGUEIRA-BRANCA
Nome científico: Ficus guaranitica
Onde é encontrada: Rio de Janeiro, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Goiás, São Paulo e norte do Paraná, principalmente na floresta semidecídua da bacia do Paraná. Existem outras espécies de "ficus" denominadas popularmente de "figueira-branca", todas muito parecidas com essa. Outros nomes: figueira, figueira-brava, mata-pau, figueira-mata-pau.
S - SAPUCAIA
Nome científico: Lecythis pisonis
Onde é encontrada: Ceará até o Rio de Janeiro,na floresta pluvial atlântica. É particularmente freqüente no sul da Bahia e norte do Espírito Santo. Outros nomes: castanha-sapucaia, sapucaia-vermelha, cumbuca-de-macaco, marmita-de-macaco, caçamba-do-mato.
N - NAIÁ
Nome científico: Attalea dubia
Onde é encontrada: Rio de Janeiro até Santa Catarina, na floresta pluvial da encosta e da planície atlântica.
Outros nomes: indaiá, palmeira-indaiá, coqueiro-indaiá, palimito-de-chão (RJ), indaiá-guaçu, inaiá, camarinha, anajá.
2. Raça da Hortelã
H - HORTELÃ
Nome científico: Mentha piperita
Onde é encontrada: não pertence à flora nativa.
Outros nomes: menta.
D - DIMA
Nome científico: Croton lanjowensis
Onde é encontrada: região amazônica, principalmente, no estado da Amazônia, na mata pluvial de terra firme. Outros nomes: dima-branca.
T - TUCUMÃ
Nome científico: Astrocaryum vulgare
Onde é encontrada: estado do Pará, na floresta amazônica de terra firme. Outros nomes: tucumã-do-pará.
C - CASTANHEIRA
Nome científico: Bertholletia excelsa
Onde é encontrada: em toda a região amazônica, incluindo os estados de Roraima, Acre e Amazônia. Outros nomes: castanha, castanha-do-pará, castanha-verdadeira, castanheiro, castanha-do-brasil, amendoeira-da-américa, castanha-mansa.
Q - QUARESMEIRA
Nome científico: Tibouchina granulosa
Onde é encontrada: Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, principalmente na floresta pluvial da encosta atlântica. Existe uma variedade dessa espécie que produz flores róseas. Outros nomes: flor-de-quaresma, quaresmeira-roxa, quaresma.
3. Raça do Mate
M - MATE
Nome científico: Ilex paraguariensis
Onde é encontrado: Mato Grosso do Sul, São Paulo até o Rio Grande do Sul nas matas de altitude (400-800m). É particularmente freqüente na mata dos pinhais dos três estados sulinos. Outros nomes: erva-mate, erveira, congonha, erva, erva-verdadeira, erva-congonha.
G - GOIABA
Nome científico: Psidium guayava
Onde é encontrada: Rio de Janeiro ao Rio Grande do Sul, na floresta pluvial atlântica. Ocorre também de maneira espontânea em quase todo o país. Outros nomes: guava, goiabeira, goiabeira-branca, goiaba-pera, goiaba-branca, goiaba-vermelha, araçá-goiaba, araçá-guaçu, guaiaba, guaiava, araçá-guaiaba.
NH - NHACATIRÃO
Nome científico: Miconia cinnamifolia
Onde é encontrada: Bahia até Santa Catarina, principalmente na floresta pluvial da encosta atlântica. Outros nomes: jacatirão, jacatirão-açu, jacatirão-de-copada, carvalho-vermelho, casca-de-arroz.
Z - ZIMBRO
Nome científico: Juniperus communis
Onde é encontrado: não pertence à flora nativa.
Outros nomes: junípero.
R - ROMÃ
Nome científico: Punica granatum
Onde é encontrada: não pertence à flora nativa.
Outros nomes: romãzeira.
4. Raça da Araucária
A - ARAUCÁRIA
Nome científico: Araucaria angustifolia, Bert.
Onde é encontrada: Minas Gerais e Rio de Janeiro até o Rio Grande do Sul em regiões de altitudes acima de 900m (no sul, acima de 500m). Outros nomes: parana-pine, curi, curiúva, pinheiro-do-paraná, pinheiro, pinho, cori, pinho-brasileiro, pinheiro-brasileiro, pinheiro-são-josé, pinheiro-macaco, pinheiro-caiová, pinheiro-das-missões.
O - ORABUTÃ
Nome científico: Caesalpinea echinata
Onde é encontrada: Ceará ao Rio de Janeiro, na floresta pluvial atlântica, sendo particularmente freqüente no sul da Bahia e norte do Espírito Santo. Outros nomes: pau-brasil, ibirapitanga, brasileto, ibirapiranga, ibirapita, ibirapitã, muirapiranga, pau-rosado, pau-de-pernambuco.
U - URUCUM
Nome científico: Bixa orellana
Onde é encontrada: região amazônica até a Bahia, na floresta pluvial, geralmente ao longo de rios, largamente cultivada nas florestas pelos indígenas. Outros nomes: urucu, colorau, açafroa, açafroeira-da-terra.
E - EMBAÚBA
Nome científico: Cecropia glazioui
Onde é encontrada: encontradas na Mata Atlântica, em matas ciliares e bordas de capões. Outros nomes: umbaúba, árvore da preguiça, pau de lixa, caixeta, imbaíba, ambaíba, baibeira, torém.
I - IPÊ-AMARELO
Nome científico: Tabebuia alba
Onde é encontrado: Rio de Janeiro, Minas Gerais até o Rio Grande do Sul, na floresta semidecídua de altitude. Outros nomes: ipê-da-serra, ipê-amarelo-da-serra, ipê-mandioca, ipê-branco, ipê-tabaco, ipê-mamona.
5. Letras Adicionais
CH - CHAL-CHAL
Nome científico: Allophylus edulis
Onde é encontrada: região amazônica até o Ceará, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Bahia, Rio de janeiro até o Rio Grande do Sul, principalmente na floresta pluvial e semidecídua. Outros nomes: vacum, vacunzeiro, chala-chala, baga-de-morcego, fruta-de-pombo, murta-branca, fruta-de-pavó, fruta-de-paraó, murta-vermelha.
GÜ - GUAXUPITA
Nome científico: Esenbeckia grandiflora
Onde é encontrada: Rio de Janeiro e Minas Gerais até o Rio Grande do Sul, principalmente na floresta latifoliada semidecídua. Outros nomes: canela-de-cutia, pau-de-cutia.
J - JACARANDÁ
Nome científico: Jacaranda angustifolia
Onde é encontrado: Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, São Paulo até o Paraná, principalmente na floresta latifoliada semidecídua da bacia do Paraná. É muito semelhante à espécie exótica Jacaranda mimosaefolia (jacarandá mimoso) nativa do norte da Argentina. Outros nomes: caroba, jacarandá-de-minas, caivá, jacaranda-branco, caroba-branca, pau-de-colher, pau-santo, carobeira, jacarandá-preto, mulher-pobre.
P - PITANGA
Nome científico: Eugenia uniflora
Onde é encontrada: Minas Gerais até o Rio Grande do Sul, na floresta semidecídua do planalto e da bacia do rio Paraná. Outros nomes: pitangueira, pitangueira-vermelha, pitanga-roxa, pitanga-branca, pitanga-rósea, pitanga-do-mato.
V - VAROVA
Nome científico: Prunus sellowii
Onde é encontrada: Rio de Janeiro ao Rio Grande do Sul na mata pluvial atlântica e Minas Gerais e Mato Grosso do Sul até o Rio Grande do Sul nas florestas semidecíduas. Outros nomes: pessegueiro-bravo, pessegueiro-do-mato, miguel-pintado, coração-de-negro, marmelo-do-mato, coração-de-bugre, varoveira.
Podem-se formar os nomes das letras com a consoante inicial mais uma só vogal, ou, no caso das vogais, apenas com o som da própria vogal, como em português. Teríamos assim: ba, li, fi, sa, na; hor, di, tu, ca, qua; ma, go, nha, zi, ro; a, o, u, e, i; cha, gua, ja, pi, va.
Por Bellovesos Isarnos
Excelente estudo a todos!
Rowena A. Senėwėen ®
Pesquisadora da Cultura Celta e do Druidismo
Leia também: Ogham e os Símbolos das Fedha
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