O Druidismo no século XX

Texto original de Brendan Myer
Tradução: Bellovesos Isarnos

Podemos dizer que há boas razões para que povos modernos considerem o Druidismo como uma rota espiritual válida e um modo de vida cultural na atualidade. Alguns o vêem como uma forma de reconectar-se ou "aterrarem" a si mesmos na história, ou de melhorar sua compreensão de suas origens e ancestrais (se forem de ascendência céltica).

Muitos pensam que a perda das antigas formas de viver, próximas da terra viva e próximas de tribos, é a responsável pelos problemas sociais e ambientais que enfrentamos atualmente. Então, um retorno aos caminhos antigos seria uma força curadora no mundo, nesta vida e tempo. O Druidismo hoje não é um abandono da tecnologia, nem uma rejeição da sociedade. E nem uma retirada do mundo para um jardim ilusório de delícias onde os problemas não precisam ser enfrentados. Pelo contrário, é uma afirmação de nossas necessidades nesta vida e uma tentativa enérgica para obter poder sobre elas.

Há aqueles que escolhem o Druidismo no lugar de outras religiões ocidentais que são mais aceitas e difundidas, tais como o Cristianismo, o Hinduísmo e o Budismo. Uma exploração do Druidismo é, para muitas pessoas, um renascimento das espiritualidades nativas da Europa Ocidental. Muitos procuram o Asatrú para reviver a espiritualidade da Europa Setentrional em grande parte pela mesma razão.

O Druidismo nos dias atuais também é matéria de um estudo acadêmico. É comum que seja objeto de interesse de arqueólogos, historiadores e estudiosos da mitologia que não se consideram druidas e nem remotamente pagãos. Assim, há uma riqueza de material acadêmico sério disponível a respeito dos Druidas onde muitos descobrem o Druidismo por meio dele.

Quem eram os Druidas?

Na era pré-cristã da cultura céltica, os Druidas eram membros de uma classe profissional em que estava encarnada a vida religiosa e espiritual de sua sociedade. Em sua época, os Druidas ocupavam os papéis de juiz, médico, conselheiro, mago, místico e conhecedor da religião, entre outras funções. Eles eram os filósofos, cientistas, teólogos e intelectuais de sua cultura, e os possuidores da soma dos conhecimentos da sua era.

O nome "Druida" é peculiar ao povo céltico; outras culturas tinham outros nomes para o seu clero e dele esperavam serviços diferentes. Os Druidas não eram um grupo étnico ou cultural por si mesmos, mas faziam parte de uma sociedade maior na qual participavam as nações célticas da Europa Ocidental e das Ilhas Britânicas.

Os historiadores romanos escreveram os únicos relatos de primeira mão sobre o antigo Druidismo que possuímos. Embora sejam, geralmente, avaliados como testemunhas hostis, ficavam muitas vezes impressionados com a sabedoria filosófica dos Druidas e seu domínio do conhecimento matemático, científico e astronômico. O autor romano Diógenes colocou os Druidas entre os mais sábios filósofos do mundo antigo, juntamente com os Magos da Pérsia, os Caldeus (um sacerdócio dos babilônios) e os Gimnosofistas (uma seita hinduísta que precedeu os Iogues).

Estrabão detalhou que a casta intelectual dos celtas estava dividida em três subcastas diferentes, cada uma com sua própria especialização. Entre as tribos, de modo geral, há três classes de homens tidos em honra especial: os bárdoi, os ouáteis e os druídai. Os bárdoi são os cantores e poetas; os ouáteis são intérpretes do sacrifício e filósofos naturais, enquanto os druídai, em acréscimo à ciência da natureza, estudam também a filosofia moral.

Nessa nota sobre os Druidas como filósofos da natureza e da ética, quase temos uma concordância universal dos antigos observadores. Também conhecemos algumas poucas doutrinas druídicas pelos escritores romanos. Seus ensinamentos sobre a ética chegam até nós em pequenos fragmentos e provérbios, aos quais Diógenes Laércio se referiu como enigmas e ditos obscuros. Um deles, que deve ser lembrado e que foi aprendido por Druidas modernos, é o ensinamento de que os Deuses devem ser adorados, o mal não deve ser feito e um comportamento honroso deve ser mantido.

Júlio César confirmou que os Druidas tinham uma crença na imortalidade da alma e que a crença inspirava coragem e até mesmo temeridade no campo de batalha. Ele acrescentou ainda: Eles também têm muito conhecimento das estrelas e de seu movimento, do tamanho do mundo e da terra, da filosofia natural e dos poderes e esferas de ação dos Deuses imortais, dos quais discutem e transmitem a seus jovens estudantes.

A possibilidade de que os Druidas ensinassem uma tradição de mistério. Informação sobre o tamanho do mundo, física (filosofia natural) e os Deuses. No mundo antigo, considerada conhecimento filosófico e cosmológico, ao invés de conhecimento científico, embora incluísse informação sobre o mundo e as operações da natureza obtida através de experimentação e observação científicas. Isso acompanhava idéias sobre as estruturas e poderes maiores do mundo sagrado (os Deuses imortais, o tamanho do mundo, etc.) - que é o tipo de informação que pode ser obtida através de práticas místicas, como a meditação. [...]

Os bardos e os filid eram os mantenedores primordiais das histórias, genealogias, leis, poesia, música e contos do povo céltico. Seu treinamento era semelhante ao treinamento do Druida e sua posição na sociedade era inferior apenas à do Rei. Esperava-se que um bardo fosse capaz de executar o que se chamava de os três nobres acordes, que eram: a música para inspirar o riso, as lágrimas ou o sono. Tinham a garantia de receber uma hospitalidade especial aonde quer que fossem e não ser insultados, entre outros direitos; uma infração desses direitos permitiria que o bardo compusesse um poema satírico que iria denegrir a reputação do ofensor.

As principais fontes de informação sobre os antigos Druidas são os relatos de historiadores romanos, os dados fornecidos por restos arqueológicos e a literatura mitológica registrada pelos monges entre os sécs. VIII-XII d. C. Também, embora seja uma fonte mais fraca, analogias podem ser estabelecidas entre os celtas e outras culturas indo-europeias semelhantes, tais como o povo hindu. Por exemplo, um poema antigo chamado "O Caldeirão da Poesia" apresenta o que se interpretou como um sistema parecido com os chakras, isto é, análogo aos chakras do Yoga, com três centros de energia no corpo humano, ao invés de sete. Se a antiga religião céltica tivesse sobrevivido, suspeito que fosse muito parecida com o Hinduísmo moderno, apesar de suas diferentes formas de expressão.

Mas, no ponto de vista deste autor, as melhores fontes são os mitos. Ali podemos ler o que os Druidas fizeram e como se comportavam, além do que alguns deles disseram e ensinaram. Embora os manuscritos medievais que os preservaram tenham sido escritos e editados por monges cristãos, muito da sabedoria druídica ainda permanece neles. Neste século, coleções foram escritas sobre o folclore, as lendas e orações da tradição oral remanescentes. O famoso Carmina Gadelica, uma coleção de preces populares das Hébridas da Escócia, é um exemplo do uso da tradição popular como fonte para o estudo do misticismo céltico.

Um dos problemas ao estudar-se o Druidismo academicamente é que os Druidas foram objeto de numerosas perseguições e conquistas, não somente pelos romanos, mas também por nórdicos, normandos, saxões e cristãos. Muito da sabedoria druídica sofreu a censura, evoluiu para algo irreconhecível ou simplesmente se perdeu. É verdade, no entanto, que os romanos nunca invadiram a Irlanda, de modo que esse país se tornou um refúgio para o conhecimento druídico por algum tempo. Uma pessoa moderna buscando o caminho do Druida deve tentar reconstruir a sabedoria baseada em algumas ou em todas as fontes discutidas acima.

Mesmo fazendo isso, descobre-se que, apesar da enorme quantidade de dados culturais presumivelmente perdidos, a disposição verdadeiramente céltica das fontes permanece forte e clara. Também se pode encontrar muito da magia druídica nos escritos de artistas irlandeses e escoceses contemporâneos. O Renascimento Literário Irlandês, com autores como William Butler Yeats, Lady Augusta Gregory e George "A. E." Russell.

PLACE, Robin. Os Celtas. São Paulo: Ed. Melhoramentos, 1989
O estudo dos mitos amplia nossa visão e nos conecta ao mundo da inspiração através do simbolismo empírico. Como diz Carl Gustav Jung: "Para observarmos as coisas na sua justa perspectiva precisamos, porém, entender tanto o passado do homem quanto o seu presente, onde está a importância essencial de compreendermos mitos e símbolos."

Que assim seja!

Rowena A. Senėwėen ®

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