A Estação
Beltane é um tempo de crise. Numa comunidade pastoral é o tempo em que os animais são removidos de seus abrigos de inverno para as pastagens de verão. Isso significa cruzar de áreas próximas dos povoados para áreas essencialmente selvagens. Numa comunidade agrícola, as plantações estão começando a crescer. Não mais protegidas sob o solo, e ainda não completamente crescidas, elas estão num estado vulnerável.
O perigo vem dos espíritos da terra que são Forasteiros. Não tendo sido trazidos para a comunidade (através de uma escolha sua ou nossa), pode-se esperar que eles tenham intenções opostas às nossas. Obtemos nossos ganhos às custas deles. Portanto, nós os propiciamos, fazendo as pazes com o caos antes de podermos construir nosso cosmos.
O Ritual
A principal finalidade deste ritual é pacificar os Forasteiros e obter seu consentimento para formarmos nossa civilização no seu meio. Uma vez que isso tenha sido feito, podemos confiantemente pedir às deidades domésticas que protejam nossos lares.
O rito da escolha do pedaço de pão marcado pode ter sido originalmente realizado para escolher uma vítima sacrificial. Nos tempos históricos, o escolhido era purificado pelo fogo, um representante da comunidade. Na purificação, somos todos purificados da influência malfazeja do inverno.
Ele deve primeiramente fazer o trabalho da comunidade. É enviado ao desconhecido, levando uma oferenda aos Forasteiros. Embora os Deuses o tenham escolhido, ainda existe uma certa incerteza no tocante à aceitação da oferenda. Mesmo que ele retorne com sucesso, deve ser purificado antes de ser readmitido - ele se tornou sagrado e, por ter chegado tão perto dos Forasteiros, pode ter adquirido algo de sua influência.
Finalmente, no encerramento, cada participante é purificado individualmente na fumaça dos fogos.
Elementos
Um pão num prato
Um pano para cobrir o pão
Uma faca para cortar o pão
Uma tigela de cevada
Uma tigela de oferendas
Celebrantes: Dois sacerdotes (Druida 1 e Druida 2) e Adivinho.
A Prece de Abertura
Druida 1: Estamos aqui para honrar os Deuses!
Druida 2: Reunímo-nos neste dia sagrado
Para celebrar a festa de Beltane,
Para chamar a estação do verão,
Para ganhar do caos um momento de paz
Para que possamos obter nossa colheita.
Apaziguando os Forasteiros
Druida 1: O tempo do descanso terminou,
E o tempo do plantio chegou.
Tiramos nossos campos das terras não demarcadas,
Medindo nosso mundo em seu interior
Para no meio dos que lá habitam, além das fronteiras.
Druida 2: Fazemos uma oferenda, então,
Para abrandar, apaziguar e agradar os Forasteiros,
E deles ganhar o consentimento relutante
Para formarmos nosso mundo como uma ilha,
Nossos lares, nossa cultura, nosso povo, nossos campos,
Dentro do grande mar circundante.
O Druida 2: segura o pão e o apresenta aos demais. Recoloca-o no prato e faz uma marca no lado de baixo. Ergue-o para mostrar a marca aos outros. Recoloca-o no prato e o corta, certificando-se de que a marca ficou em um só pedaço. Ele o gira três vezes, em sentido "deosil", dizendo o seguinte, uma linha a cada giro:
Faço este giro pelas bênçãos dos Grandes Deuses
Faço este giro pelas bênçãos dos Ancestrais Veneráveis
Faço este giro pelas bênçãos dos Espíritos da Natureza
O Adivinho escolhe alguém que não seja membro do Bosque e os dois vão até o pão. O Adivinho segura um pano cerca de 15 cm acima do pão e o estranho ao Bosque gira-o três vezes, em sentido "deosil", e depois volta ao seu lugar. O pano é abaixado sobre o pão e uma das crianças do Bosque adianta-se e gira o pão três vezes, em sentido "deosil". A criança volta a seu lugar. O Druida 2 então traz o pão coberto para perto do círculo e cada adulto pega um pedaço de sob o pano. Quando todos tiverem feito isso, aquele que tiver a peça marcada levanta-a. O canto cessa. O Druida 1 acena, chamando a si a pessoa marcada. O Druida 1 e o Druida 2 erguem suas mãos em benção sobre ele e dizem:
Druida 2: Ao irdes além dos limites do "nemeton",
Que as bênçãos dos Ancestrais estejam contigo.
Druida 1: Ao irdes além dos limites do "nemeton",
Que as bençãos das Deidades estejam contigo.
Druida 2: Ao irdes além dos limites do "nemeton",
Que as bênçãos dos Espíritos da Terra estejam contigo.
Todos erguem suas mãos em benção e dizem: Ao irdes além dos limites do "nemeton", possam as bênçãos das Três Famílias estar contigo e nossas bençãos também. O marcado vai ao portal e diz:
Àqueles além da fronteira,
Sejam Deuses ou Deusas,
Sejam Espíritos ou Mortos,
Àqueles que foram antes de nós
E habitam na escuridão da sombra de nosso mundo:
Venho a vós com uma oferenda
Para de vós adquirir um mundo de paz.
Ele sai pelo portal e faz a oferenda do seu pedaço de pão. Ao voltar, é encontrado no portal pelo Adivinho, que o asperge, dizendo:
Purificamos-te da influência dos Forasteiros.
Afastamos-te deles
Para que possas voltar ao nosso povo.
O Adivinho o conduz ao fogo, onde é encontrado pelo Druida 1 e pelo Druida 2. O Druida 2 lhe dá a cevada e o Druida 1 diz:
Oferta aos Sagrados
E torna-te outra vez parte do povo.
Depois de oferecer a cevada ao fogo, o Druida 2 diz:
Druida 2: Povo da tribo, circundai o "nemeton",
Criando sobre este que retornou o recinto sagrado.
Eles circulam em sentido "deosil" uma vez. A pessoa marcada então se reúne ao círculo ocupando a direita do Druida 1, que lhe passa uma tigela de oferendas.
As Oferendas
O Adivinho diz:
Com os Forasteiros pacificados, podemos fazer nossas oferendas.
Começando com o Druida 1 e seguindo em sentido "deosil", cada pessoa vai ao marcado e lhe dá um pouco do seu pedaço de pão, antes de ir ao fogo e colocar nele o resto. Ao fazer a oferenda, cada pessoa ora a sua deidade protetora para que defenda sua casa na estação que inicia, dizendo algo como:
A ....... e ....... , que guarda(m) minha casa,
Ofereço este pão.
Protege (protegei) minha casa, as pessoas e minhas posses,
A terra e tudo que nela está.
Quando chegar a vez do marcado, ele usará os pedaços de pão que os demais lhe deram como oferenda. Depois que ele o fizer, o Druida 2 diz:
Derramai sobre nós, ó Família, todas as vossas bênçãos,
Concedei-nos vossos dons,
Ofertai-nos, de braços abertos,
A abundância infinita de vosso poder
Sobre os campos e os animais...
Todos: Que as bênçãos caiam.
Druida 2: Sobre a lareira e o lar.
Todos: Que as bênçãos caiam.
Druida 2: Sobre a família e os amigos.
Todos: Que as bênçãos caiam.
Druida 2: Sobre todo o nosso mundo,
De fronteira a fronteira e sobre todos dentro delas.
Todos: Que as bênçãos caiam.
Druida 2: De agora a Samhain, sede nossa proteção.
Sustentai o mundo em que vivemos.
De tudo que poderia ferir-nos...
Todos: Protegei-nos, Família.
Druida 2: De tudo que poderia enfraquecer-nos...
Todos: Protegei-nos, Família.
Druida 2: De tudo que poderia prejudicar a nossa tribo...
Todos: Protegei-nos, Família.
Druida 2: Sobre tudo que possuímos
Sobre tudo que é nosso,
Sobre tudo que nos é caro
Todos: ...Que as bênçãos caiam sobre nós!
Os Caldeirões da Purificação
O Druida 2 acende um fogo em dois caldeirões que tenham sido colocados perto dos portais, transferindo a chama do fogo principal para eles. Ao fazê-lo, diz: Os fogos de Beltane são fogos de purificação.
Finalização
Druida 2: Ao deixarmos o "nemeton", passamos entre dois fogos.
Possam eles queimar os restos do inverno dentro de nós.
Deixamos a estação do interior,
Entramos no exterior.
[Bellovesos: na "Abertura", afirma-se a intenção do ritual. Na parte "Apaziguando os Forasteiros", a posição deles na ordem cósmica é reconhecida e a oferenda é feita como um sinal da boa-vontade da comunidade humana – e é a parte mais elaborada do rito. Depois disso, passa-se às oferendas ao fogo de Beltane propriamente ditas, aos pedidos de bênçãos e à purificação dos participantes no encerramento da celebração, quando todos passam entre os dois fogos.]
O pão utilizado no ritual é o "bannock", uma receita gaélica tradicional.
Leia também: Festival de Beltane
Rowena A. Senėwėen ®
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